Dobrou a rua e saiu em uma realidade paralela. Não que talvez não quisesse isso, mas não teve muito tempo para pensar no assunto. Estava correndo pela rua para tentar recuperar a coleira do cachorro e por razões que não entendeu parou em algum vão da realidade e ficou ali, parado, no meio do cenário cinza.
Sentiu um calafrio. Será que dava para voltar? Ficou travado alguns minutos tentando entender e, em seguida, começou a se mover frenético. No primeiro passo que deu, moveu-se para todos os lados ao mesmo tempo. E quando tentou voltar, moveu-se diametralmente oposto a cada ponto. Olhou ao redor. Tudo era cinza, neutro e liso, sem textura. Nem sequer sabia onde era o início para onde queria voltar. Tentou mexer no bolso para saber se possuía algo que pudesse usar. Mas não tinha um bolso, porque não tinha mais pernas. Como diabo? Pelo visto, não tinha mais um corpo. Mas tinha uma consciência.
Seria droga? Como foi parar ali?
Tentou aprender a se mover, mas quanto mais se movia, percebia que o conceito de "lugar" também não existia mais. Era tudo igual e, apesar de sentir movimento, não mudava de lugar porque todo lugar era o mesmo.
Entendendo nada, tentou parar de pensar. E isso causou o efeito oposto: como se houvesse sacudido seu cérebro com um golpe de um machado, sua memória mergulhou nos registros e invadiu piores e melhores lembranças simultaneamente, como um flash. Entrando e saindo como um estupro psicológico, que o levou a gargalhadas doloridas junto a angústias profundas presas em um nó na garganta. Não tem noção de quanto tempo ficou ali. Talvez cinco minutos. E foi o suficiente para ter um colapso tão agudo, que esqueceu o próprio nome e a espécie da qual fazia parte. Não conseguia parar de invadir a própria vida por todos os ambientes que não queria. Seus olhos pareciam que iriam estourar de tanta força que os fechava. (Tinha olhos? Mas não tinha corpo!)
Fez tanta resistência que foi exaurido e desistiu. E essa total ausência de atividade o sugou de volta para a realidade. Chegou de repente, com as pernas e movimento correndo atrás do cachorro.
Mas a mente já estava toda fodida. O primeiro reflexo foi, aos pegar a corrente do cachorro, se enforcar na avenida, antes que as pessoas do outro lado da rua pudessem atravessar e fazer algo.
Abriu o olho. Era tudo cinza e liso. Sem textura.
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