Misantropia

Aquela mulher que não sabia o que dizer depois do bom dia. Na verdade, não queria ter dito nem isso. Nunca foi boa para fazer amizades e menos ainda teve interesse nisso.
Às vezes, claro, era necessário se comunicar. Tentava fazer uma piada para parecer menos estranho este ato. Mas se sentia mal com isso mesmo que seu interlocutor achasse graça. Gostava demais de ser livre para não sentir náuseas quando obrigada a fazer qualquer coisa. Como quando sua mãe te obriga a cumprimentar uma tia escrota que não te vê há anos e quer dar palpite na história de sua vida.
Incrível como era tagarela quando simpatizava com alguém; mas raro tinha o interesse de manter contato por muito tempo. Falar era só um recurso para exteriorizar e fugir da própria mente para não pensar no que não queria.

Sua timidez sooava arrogância. Sentia que, neste mundo tão opinioso, tão de palavras ao vento, tão sem conteúdo, os outros agregavam importância a própria vida procurando defeito nos outros; como se eles sentiam vergonha de si mesmos, da própria incompetência e disfarçavam isso depreciando alguém para parecerem grandes. Precisam de provas que você é bom, que você é forte. Ela, ao ver esse tipo de cena, dava um arroto bem profundo e em seguida se sentia com sono.

A importância de tudo isso pra ela? Tanto quanto a barata que esmagou na hora que entrara no bar. A verdade é que não gostava de pessoas e sentia-se estranha toda vez que se descobria humana: invasiva, inquisidora, cínica.

Preferia conversar com as notas. Pegou sua cadeira, sentou lá no fundo e colocou um som pra rolar.

Não perguntou a preferência de ninguém. Não foi falar com ninguém. Bebeu sua cerveja e ficou ali, com seus pensamentos e a espuma branca brilhante daquele cerveja horrível, mas deliciosamente gelada; usufruindo da melhor companhia que havia por ali.

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