Gloriosa Vida de Classe Média.,

Acordou era quase dez. Claro, atrasada. Colocou o sobretudo - todo mundo achava que era tão chique, mas era só preguiça - e desceu para trabalhar do outro lado da rua. Sai do trabalho, tem alguns trocados para comprar um PF e um quindim - preguiça de novo e dos infernos de fazer comida.
Morava em um pensão fuleira e madrasta, enquanto subia as escadas ouvia o barulho dos ratos fugindo do meio do corredor. Cumprimentava os travecos, as mulheres que faziam fofocas enquanto lavavam roupa - e não raro era dela e das roupas esquisitas que usava - passava direto por uns bolivianos fumando maconha e se degladiando por sabe-se lá o ques. Sua casa era branca e tinha uma cortina linda. Os móveis eram pintados de preto, uma mistura de coisas achadas por aí e bugingangas tecnológicas. Uns quadros que fazia, recortes, uns sei-lás que passava o tempo.
Havia descoberto que o sinal da internet era melhor no banheiro comunitário do andar de cima. Na escada o sinal já era bem melhor, mas não podia ficar na luz do dia exibindo seu notebook se naquele lugar morava gente tão sinistra. Por exemplo uns travecos dando o cu por dez reais enquanto ela blogava na escada. Nens.
E por isso, de noite, pegava seu travesseiro, ia até o banheiro do andar de cima, sentava no vaso com pernas de índio, levava seu conjunto de quindins e uma cerveja.

Ali estava feito seu incrível fim de semana. Editando fotos, vídeos e lendo e escrevendo bobagens.
Ah, gloriosa vida de classe média.