terça-feira, 28 de junho de 2011

Um dia perfeito pode estragar tudo.




Juraci tinha um par de meias quase não usadas que quase não bagunçavam a casa. Uma na borda da cama e a outra só um pouco além. Um pedaço de pizza de ontem, catupiry frio e duro com aquela gosma suculenta por dentro. Calçou suas meias, comeu meia pizza e encontrou sua calça favorita atrás da porta. Vestiu-se saindo e não tinha ninguém no corredor para prestigiar aquela cena. Lavou a cara na pia e o banheiro comunitário não estava infestado de bosta, milagrosamente. Ele mudou este fato e saiu contente. Seja quem fosse, merecia ver aquilo.
Os corredores da pensão estavam fervendo de mobília anárquica. Como os quartos eram muito pequenos, se alguém adquirisse um móvel novo, tinha que se livrar de outro e esse, ia pro corredor. Hoje tinha um espelho, quatro tábuas de diferentes tamanhos e umas caixas de feira pintadas. Caixas de feira são boas para fazer prateleiras, pensou. Pegou duas. Já estavam furadas. Ótimo e prático. O espelho estava quebrado e era grande demais. Tinha uma cadeira também. Era bonita até, mas também era grande e ele já tinha duas. Saiu do prédio. Foi ao banco ver se o inquilino finalmente tinha depositado o aluguel. Caso não, tinha que expulsa-lo. Mas Juraci, bunda mole feito ele mesmo, no máximo iria dar outro ultimato e voltar fazendo juras de fodeza pro próximo encontro. Só que dessa vez, caralho! Lá estava o aluguel e até com os juros que ele havia imposto.
Ah, dinheiro na mão. Depois de dias bebendo água do tanque e remexendo macarrão com manteiga na eterna panela suja, só conseguia pensar em tomar aquele refrigerante de uva verde. Nunca tinha, mas naquele dia, claro, tinha. Com aqueles pedaços fresquinhos de uva dentro.
Quando voltou para casa, com uma nova pizza, um tênis quase novo e um pente, fuçou no bolso da calça para achar a chave e achou trinta reias que achava que tinha perdido havia algumas semanas. Podia jurar que tinha vacilado, perdido e que quem achou estava rindo da cara dele até hoje. E a chave, na hora de abrir o portão, não enganchou, abriu de terceira.
Dias depois ele se apaixonou, ganhou uns reais no bicho, terminou o curso de body piercing e ganhou um Pringles de barbecue. Mas dias como aquele às vezes lhe davam a sensação de que, na verdade, sua vida estava toda errada e que ele poderia ser muito mais feliz, porque precisava só de paz e sossego.

4 comentários:

  1. ai eu preciso de um pouco da sorte deste cara.
    encontrar dinheiro no bolso, ganhar no bicho...
    haahhaha

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  2. Eu preciso de paz e sossego e a sorte desse cara...rsr

    Gostei.

    www.preteritosmatinais.blogspot.com

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  3. ducaraio....porra nao é que vc sabe escrever!

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