Já passava da meia noite. Eu vinha caminhando pela passarela pensando em algumas bobagens - sinceramente, nem lembro se era bobagem mesmo - quando as luzes dos postes de iluminação apagaram. A noite preta sem estrelas se misturou com o cinza escuro do asfalto e do concreto da passarela. A princípio foi um pequeno susto, afinal aquela luz nunca apaga. Mas depois continuei; nunca tive problemas com o breu. Foi quando eu vi, no fim do lado oposto da passarela, vindo ao meu encontro, uma silhueta magra, de homem. Da minha altura. Comecei a caminhar um pouco mais para a esquerda, para dar passagem a ele, mas ele não queria passar. Ele vinha firme, na minha direção.
Poucos metros nos separavam. Tive aquele tipo de pensamento instantâneo, que depois se fica tentando dissertar o que pensou e parece que no instante foi elaborada uma enorme linha de raciocínio, mas só é explicação pra como se agiu, de súbito. Acho que pensei que se eu voltasse, voltaria para um lugar mais sinistro, onde havia mato e seria pior para ir; a direção para qual eu ia era mais iluminada. Era pouca, a distância. Se havia algo a acontecer, aconteceria.
E aconteceu.
Ele chegou perto, de súbito, como quem acaba de chegar no trem e quer lugar a janela. Estava com a mão direta por dentro da calça, na direção do pênis, como quem portava uma arma. Mal olhou nos meus olhos quando disse:
- ME DÁ SUA BOLSA AGORA E VÊ SE NÃO GRITA! DÁ A BOLSA!
Eu fiquei atônita. Devo ter chorado. Fiz tal cara que pareceu que até o meliante por alguns segundos se comoveu. Pegou no meu braço com a outra mão, nem com força, nem sem:
- Dá logo isso menina, não vou fazer nada com você. Dá a bolsa que eu vou embora!
De estalo, eu assustei. Mas comecei a pedir:
- Moço, por favor, não faz isso, não tem nada aí, por favor, me deixa ir embora, por favor, me deixa ir, me deixa ir...
- DÁ ISSO AQUI! - e mal encostando em mim, tirou a bolsa do meu frágil braço e saiu correndo.
Nessa hora, me enchi de fúria. Como ele poderia correr, se estava com uma arma perto do pênis?! Percebi que havia sido tapeada e movida pela raiva, corri desembestadamente atrás do meliante:
- Volta aqui, devolve a minha bolsa! Não tem nada aí! Volta aqui!
E descemos correndo, eu e ele, no sentido mais escuro, na direção de onde eu havia vindo, do ponto de ônibus. Que era próximo ao mato da beira da estrada. Quanto mais nos aproximavamos da beira da estrada, musicados por gritos e palavrões, o cidadão ia tirando algo do bolso, enquanto iamos pela estrada ao escuro da noite, onde não via nenhuma outra silhueta e não ouvia nada além de gritos e meu próprio fôlego ofegante.
E depois? e depois? é tão injusto nos atiçar a curiosidade desse jeito...
ResponderExcluirE passar uma situação assim, é bem pior... ô se é...
Beijos meu morango silvestre.
O fim tá implícito, M'.
ResponderExcluirLi uma vez e notei a implicidade, li de novo e não, daí fiquei na duvida...
ResponderExcluirVai saber, vai saber...
ah, que curiosidade!
ResponderExcluirbeijos.
Estou em dúvida!
ResponderExcluir''o cidadão ia tirando algo do bolso, enquanto iamos pela estrada ao escuro da noite, onde não via nenhuma outra silhueta e não ouvia nada além de gritos e meu próprio fôlego ofegante.''
oh deus. rsrsrs