Minha bisnaguinha,
Subiu da terra, cuspiu as raízes, limpou o terno laranja e ajeitou os cílios. Entrou - como quem já havia preparado o caminho a milênios - no pequeno vilarejo de sensações, como quem acaba de entrar no trem e quer lugar na janela. Chegou sem fazer cerimônia, tomando nas mãos os melhores vinhos, fazendo perguntas sobre a dor, a fé, a vida e a morte.
E encontrou, no vilarejo, todas as dores do mundo. As mulheres que lavavam suas roupas a beira do rio largaram sua força - que se chocava contra as pedras - e choraram ácido, ao lembrarem de suas heresias, de suas mágoas, do que tinham feito e do que faltava de suas vidas. Os homens de frete, sentados com as pernas bem cruzadas, fumando um charuto vagabundo, se encolheram contra as paredes e sentiram o desabor de chorume na ponta da língua. As crianças travessas - de travessura, de criança - estavam sem barro, estavam com as feições diabólicas. Mas brincavam de morrer. Como se não houvesse amanhã.
Foi então que ele riu. E depois, ainda tirou um lenço verde de seu terno bem cortado e secou uma lágrima que nunca existiu. Ele, o olho clínico, havia criado pacientes, a quem doou sua repulsa. Distribuiu receitas e foi embora para dentro das raízes do vilarejo, de onde nunca mais ninguém o viu sair.
E desde então, eu já morri por muito menos.
Uma viagem ao centro do "eu", digna de um Lewis Caroll. Continue escrevendo sobre o "olho clínico", porque está indo bem.
ResponderExcluirfiquei meio boiando, não entendi direito, mas ...
ResponderExcluira narrativa é boa.
vc disse no marmanjjus que foi mancada a foto do frango.
acho que vc nem leu a receita pra fazer um comentário como esse que vc deixou lá.
mas tudo bem. não dá nada. era uma piada na receita pra entender a foto.
belo texto, uma ótima escritora você!
ResponderExcluirhttp://www.1lenin1blog.blogspot.com/
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O Texto, e muito maneiro! gostei mesmO!
ResponderExcluirNossa, que inspiração..."como se não houvesse amanhã"...já cantaram...na verdade não há...
ResponderExcluirNossa, achei o texto bem profundo! e muito bem escrito! O final foi perfeito: "E desde então, eu já morri por muito menos."
ResponderExcluirbjs!
Logo que entrei nesse blog senti um pouco de medo, depois achei curioso, as imagens, os textos... Quando comecei a ler e gosteu muito da escrita!
ResponderExcluirhttp://demeninaparamenino.blog.terra.com.br/
Gosto bastante de composição de textos e ótima escolha de imagens! Se completam!
ResponderExcluirE desde então, eu já morri por muito menos.
ResponderExcluira melhor parte^^
apesar de eu ter boiado um cado
www.hysteria-project.blogspot.com
Pensei no Abade Prévost dando uma de alienista... Bonito texto, mas não fique se morrendo tudo a toa q faz mal pras tripas.
ResponderExcluirnum entendi quase nada! deve ser o sono... kkkk
ResponderExcluirMe diverti muito com seu texto!
ResponderExcluirÉ leve e reflexivo!
Sorte!
http://identidade-cultural.blogspot.com/
Quando eu vi a imagem e a comparei com a do post anterior, nem imaginaria que o texto teria qualidade tão evidente. A parte em que seca uma lágrima que nunca existiu foi genial.
ResponderExcluirEstá de parabéns pelo texto! Brilhante!
Escreve super bem! E haja inspiração, hein.
ResponderExcluirNão sei se entendi. Que criatura era essa, algum diabo?!
ResponderExcluirMuito bom!!!
Caramba!
ResponderExcluirQue texto legal e ao mesmo tempo estranho
Gostei muito
B L O G - http://cerebro-musical.blogspot.com
T W I T T E R - http://twitter.com/cerebromusical
Texto belissimo me identifiquei muito com o seu blog. Est´´a de parabéns. Sucesso.
ResponderExcluirConfesso que nao entendi mto bem, sou lerda pra interpretar historias, mas percebi ser um belo texto. Beijos
ResponderExcluirAiai...
ResponderExcluirEssa guria, se não morasse tão longe eu até me apaixonaria por ela...
Como assim "já morri por muito menos"? Favor esclarescer na recepção.
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