quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Quadra

A próxima jogada era uma bucha de quadra. Tinha que ser. Era a última peça que tinha na mão, era o último jogo do dia. Eram cem reais queimados na praça, em cinco partidas que cada uma não durou nem dez minutos.
Segurava a pedra na mão como quem segura um casamento fracassado que queria manter, um emprego que foi demitido, um amigo que o desprezava, o sossego que gostaria de ter conhecido, mas nunca soube o que era.

Travou a bucha de quadra no dedo e olhava fixamente para o formato de serpente do jogo de dominó. Pediu sem pedir ao cosmos e ao senhor do aleatório que sua bucha batesse aquele jogo.

E vejo o jogador que o antecede. E ele joga, jogou uma sena de quadra! Uma sena de quadra! A quadra a ponta do jogo.

Ele joga sua bucha com força, sorri depois de quase uma hora de semblante travado e coração duro, respiração apertada.

Rapou a mesa, cinco participantes, recupera os cem conto, num misto de araras e micos vermelhos e amarelos na mão. Seu momento de glória na praça dos Remédios duraram o embaralhar das peças até a próxima partida.

Perdeu, até perder tudo.

Um comentário:

  1. eu lembro desse dia - a merda é que eu sempre lembro e sei que vc nunca se lembra. saber que não significa nada pra vc. enfim - mas, vc perdeu loucamente no dominó, mas estava animada pra escrever, aí me disse pra dizer qualquer palavra aleatória que faria um texto, uma foi a quadra... caramba, as coisas andam meio ruins por aqui. onde cadê você?

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