sábado, 14 de janeiro de 2012

Depois nunca mais vou beber, mas hoje eu vou encher a cara




Eram seis da tarde da sexta-feira e o salário estava tão em chamas quanto o velho barreiro que lhe descia a garganta. mudou do bar que frequentava. pessoas são uma desgraça, mesmo. a cada gole que ele se emergia, pensava em como a sensação era boa e em como não poderia aproveitar disso sem aparecer um exu encarnado para roubar sua brisa.
Ou talvez a culpa fosse de tanta cachaça. talvez virasse um mala.

oito da noite. aparece uma menininha com uma caixinha de bala.
- quer moço? um real o saquinho.
- um real? com isso eu te compro um saquinho de cola e aí você para sair vendendo coisas por aí. criança não pode fazer isso.
- então dá cinco, meus quatro irmãos estão ali.

sacou cinco reais do bolso e a menininha foi embora.

nove da noite. se aproxima de uma adolescente que joga bilhar e estende seu copo de maria mole.
- arghhh, sai daqui, velho nojento!
- sua puta.
- o que?
- sua puta.

meia noite. chega uma amiga, ele vai até ela.
- eu já te falei que te amo. seu problema é que você não quer me aceitar do jeito que eu sou. eu já falei que mudaria por você, mas não posso mudar de uma hora pra outra. e toda vez eu bebo para esquecer as coisas que você me fala, quando me trata mal no telefone. você tá me matando. acho que vou perder o emprego. não tenho mais vontade de sair com os amigos. só de ficar aqui, virando o copo. não tenho nem mais vontade de tomar banho, de levantar. eu preciso da sua ajuda, você entende?
- Renato, você tem que pegar leve nessa cachaça. eu te ajudo, você sabe. vamos pra minha casa depois, toma um banho e troca essa roupa.
- eu prometo que mudo, mas preciso de você. - segura as mãozinhas apaixonadas dela.
- não sei porque - ela lacrimeja - mas eu acredito em você. volta comigo, Renato?

só era meia-noite. ele não trabalha de sábado. ainda tinha dinheiro pra caralho.

- Tá certo. Prometo que nunca mais vou beber, mas hoje vou encher a cara.

3 comentários:

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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