domingo, 14 de agosto de 2011

A retina podre



Era livre, mas não havia para onde ir. Sua visão alcançava apenas os próprios pés. Sabia articular suas razões, em prol do que lhe interessava e nunca percebeu que nada do que escolheu era o que realmente pensava ou queria. Caminhar era como erguer halteres de titânio, olhar era a certeza de tudo. Mas observar decompunha sua retina, o olho irritava a vermelho-fogo e se apagava só com a secreção amarela. Só quando desviava a vista.

(Medo! Trema suas pernas e abaixe sua cabeça! Só existem ameaças, você é uma!)

A piedade que tinha de si mesmo era seu elmo e sua espada. Ele mesmo e seu discurso decorado eram seus próprios méritos e justificativas para tanta imbecilidade. Era assim, foi porque o fizeram assim e da-me sua mão, seu braço, tuas idéias, almoça e janta e cospe no prato dele, porque seus dentes atrofiaram. Porque suas unhas não tem garra e do teu olho, só a catarata de coisas que quer ver. A catarata vermelha, que chovia no mundo inteiro.

Não foi noticiado, era óbvio. E quando foi, era pandemia. Era gene.

"O Terceiro Mundo já explodiu e o lixo está contaminando o universo!
Salve a boçalidade do submundo!
Quem tiver de sapato não vai sobrar, não vai sobrar, não vai!
O negócio é o seguinte:
Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba!

Estética do lixo!
Está tudo contaminado por uma incrível luz vermelha!"


Inspirada pelo filme "O bandido da luz vermelha, 1968."

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