sábado, 9 de julho de 2011

Joel.



Tava tarde, já batia as dezoito horas na igrejinha velha e ele ainda não havia comido. Isso há três dias atrás. Hoje, ele estava na frente da mesma igrejinha e já havia comido algumas bobeiras, coisas que havia achado no lixo. Mas definitivamente, não havia comido bem; as bitucas de rango que comera só o instigaram ao seu atual estado de morto de fome. Era domingo, talvez esse fosse o dia para resolver o seu problema. Se fizesse um rolê pela praça da República, encheria o bucho magro de tempurá, empanadas chilenas e yakissoba. Até uns vatapás. Coisas diferentes.
Não gostava muito de ir lá. Vai um povo turista - e uns metidos a turista - comer o rango do "underground". Eles acham "cool". Joel não sabia o que significava essa palavra, mas segundo todos os contextos que ele já a havia ouvido, só podia presumir que se tratava de algo ridículo.
Esperou as barraquinhas se armarem. E claro, os fregueses chegarem, comerem e largarem uma parte no lixo. Aproveitou esse meio tempo para ir até o banheiro do metrô e dar uma ajeitada no cabelo e no cheiro. Se ele fosse muito mendigão, os seguranças da praça iam mandar ele circular. É que não viam que ele é quem fazia a reciclagem e era muito mais ecologicamente correto que aquela gente "cool".
Quando voltou, começou a observar quais pessoas tinham tendência a dispensar parte do rango. Logo reparou em uma criança acoada, que foi empurrada para um acarajé gordóleo infestado de pimenta, enquanto a mãe dizia a uma amiga que a menininha tinha uma resistência inacreditável para a especiaria. Ainda bem que a mãe era tagarela e não viu a sequência da cena; a menininha jogou a comida fora e ficou enrolando tomando água de côco. Ele, pegou rápido o bolinho baiano e saiu de perto. Comeu. Gostava de pimenta, mas ainda estava com fome. E definitivamente, não queria comer aquilo.

E esse, há vários dias, tinha sido seu problema. Morrer de fome não iria. Ele morava no centro de São Paulo, uma das maiores cidades do mundo. Isso talvez ele não soubesse; mas sabia que aquele lixo todo tinha muito uso para a classe Z.
Só que toda a comida que podia adquirir - e era muita - nada importava naquele momento, o problema é que ele não conseguia achar nada que quisesse realmente comer e isso o estava deixando frustado e irritado e também, com fome. Não conseguia comer nada por que não sabia o que queria e nada o agradava o suficiente para se sentir satisfeito. Nada, no meio de todo o lixo e até mesmo do luxo, que ele facilmente poderia conseguir, fazendo um corre ali e levantando uma grana.
Até por causa disso, outro dia teve o seguinte pensamento: se uma população gera muito lixo, acaba que os decompositores, como ele, tem mais variedade. Os mendigos das grandes cidades são mais evoluídos. Convivem entre as pessoas normalmente, sem causar nojo. Se camuflam. Achava que por isso conseguia interagir tão bem e até conseguia sentir falta de uma espécie de luxo. Luxo, não é isso. Mas era alguém consciente de que existem mais opções e que elas são atingíveis.
E foi mesmo em busca destas opções. Já tinha subido a Augusta e pedido marmitex que sobraram nas casas de massa mais conceituadas da cidade, já havia feito o mesmo nas churrascarias. Deu até um trampo para ir em uma gelateria famosa e experimentar um sorvete. Avaliou o mercado, sentiu o cheiro das coisas para ver se alguma o atraia. Foi na feira, comeu tudo que pôde. Mas nada parecia completar o seu paladar e a sua fome. Acabou ali, na praça da República, onde tinham coisas diferentes e fartas das quais ele acreditava que jamais se enjoaria, (mas o caso não era enjoo).
Ele continuava gostando, era muito bom. Mas simplesmente, não era aquilo.
Andava frustado. Com fome, muita fome mesmo. Doía o estômago. Foi quando passou na frente de uma padaria e o viu, ilustre amarelovo, atrás da vitrine. Eram dois reais, isso ele tinha. Achava que era aquilo, pediu, pagou comeu e ahhh.
Era um quindim. Brilhante. E naquele momento sim, havia acabado sua fome.

12 comentários:

  1. Que legal o modo como vc escreve...
    Parabéns'
    http://cantinhocomtudo.blogspot.com/

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  2. Adorei seu blog ^^
    Muito bom !!
    Estou seguindo.
    visite
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  3. faltou template uh teu blog...

    dah uma olhada no meu

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  4. Hum não gostei desse cardápio não e nunca quero comer.....

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  5. falto template no blogger...

    dah uma olhada no meu

    http://clickloko.blogspot.com/

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  6. Olá, eu não faço questão.
    Suma e boa tarde.

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  7. To te seguindo, se puder seguir de volta e comentar... ^^

    www.luliskd.blogspot.com

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  8. Fiquei com vontade de comer acarajé e quindim... que triste...

    Muito bom seu texto... fiquei instigada a ler mais...

    http://inteiraderetalhos.blogspot.com

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  9. Acho que fico mais feliz que qualquer pessoa
    quando leio algum texto atual meu. Veja, daqui há uns dez anos posso rir das coisas que escrevo agora, do mesmo jeito que rio do que escrevia antes, e não só rio como desacredito, hehe.

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  10. Retribuindo a visita.. bjus

    http://angelmartinss.blogspot.com/

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  11. ainda bem que vc voltou a escrever com frequencia ......verdade !nao desconfie do que escrevo aqui . feliz por poder te ler mais.

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Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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