O gosto doce do Contini.

Ela o havia largado, agora esse era o fato. Era normal terem brigas feias por motivos horríveis e no dia seguinte, novamente estarem na mesma mesa tomando cerveja. Só que dessa vez, fazia um mês que ela passava reto por ele e só cumprimentava quando não havia outro modo. Com um tom de desprezo na voz. Tudo bem que ele a houvesse traído várias vezes, que ficava bêbado demais, que cheirava demais e que as vezes batia nela, mas até então, nada disso tinha sido um motivo.
Enquanto ele dava mais um tiro na mão, pensava nisso. A culpa não era dele. Só podia haver outro. Só podia, ela era bonita. Duvido que os amigos estavam tão sentidos quanto diziam quando o viam mucho, na última cadeira do bar. Mentirosos. Cretinos.
Cospe no chão e lambe o dorso, que grudara alguma farinha.
Tinha recebido semana passada e o dinheiro já estava quase acabando. Mas ainda dava pra comprar uma garrafa de qualquer coisa e talvez alguém dissesse a ele quem era o tal cara. Ele mataria. Brigaria, sabia que era forte e mesmo que não fosse tanto, pegava uma faca, um pedaço de pau, uma pedra, sei lá. Não que precisasse, ela voltaria com aquele rabo enorme pra ele. Mas era só pra impor respeito.
Comprou a garrafa. Contini. Eu, se bebesse o tanto que ele bebeu, certamente vomitaria. Essas bebidas doces são horríveis. Mas ele bebeu e nem ofereceu a ninguém, como era seu plano. Ficou no fundo do bar, colado nos Led Zeppelin's que tocavam. Goladas profundas, como algo que sentia que não sabia dar nome. Talvez uma doença. A cabeça começou a ficar pensa. Ele sabia o que dizia, mas as palavras não sabiam se enrijecer na voz. Resistiu, mas enfim, desabou na mesa. Ainda consciente, mas bêbado, bêbado. Ia travando a boca entreaberta, a saliva escorria, o olho chorava de consciência, na inconsciência de mais um gole que a gola da camisa bebia junto. Se sentia desconfortável. Então, levantou-se para deitar embaixo da mesa de plástico da Brahma e fez de parte do vômito de alguém seu travesseiro.
Foi quando ela apareceu. Parecia que nunca esteve tão bonita. Sorridente, mas como era bonita. Muito mais que as outras, que os cus de todas as outras. Seu pau, acoado, enrugou.
Ela estava mesmo com outro cara. Saiu do bar, deu um trago no cigarro. Finalmente, não engoliu a fumaça; mandou-a toda pra fora. E sequer olhou para ele, caído e urinado embaixo da mesa.
E tudo isso já havia acontecido, nas últimas 4 vezes que se viram, começando há um mês.