domingo, 7 de novembro de 2010

Leônidas



A infância
Era um escritor brilhante. E ainda ganharia milhões escrevendo. Só não sabia disso. Nasceu com as mãos e os pés atrofiados e desformes. Praticamente não tinha nem mão e nem pé. Foi obrigado a amputar. A mãe não tinha grana pra cirurgias, então ele teve de ficar daquele jeito mesmo. O máximo que deu pra conseguir foi a cadeira de rodas e improvisar uns pininhos nas rodas pra ele poder empurrar com os bracinhos.
Aprendeu o nanomínimo de matemática e português com o tio. A mãe dava o maior valor aos estudos, mas não tinha tempo pra estudar. Na verdade mesmo, não gostava. Mas dizia que o trabalho e a igreja ocupavam todo o seu tempo. Deixava em cima da escrivaninha, mostrando orgulho a ela mesma e ao filho, o diploma do ensino fundamental. Disse que um dia, ele teria o dele também. Leônidas era um cara legal. Acabou que fez três camaradinhas, irmãos, que moravam no mesmo terreno. Como o portão da frente ficava trancado e ela morava com o filho nos fundos, não havia problema em deixar a porta da casa aberta de dia. Assim, os irmãos sempre iam a casa dele. Brincavam de adivinhar. Colocavam uma venda no adivinhador da vez, alguém escrevia um número de um a dez num papel e entregava pro cara vendado. E pediam pra ele adivinhar o número. Se acertasse de primeira, 3 pontos. De segunda, 2 e de terceira, 1. Se errasse a terceira, era a vez de outro. Faziam tabelas e campeonatos desse joguinho. Viam desenhos animados. Tentavam adivinhar o formato da nuvem. Eram abençoados pela imagem de Cristo, crucificado, na cabeceira da cama.

A sorte de não ter amigos babacas
O foda era quando ele precisava ir ao banheiro e a mãe não estava. Era constrangedor. Ele nunca fora bom do estômago e tinha diarréias. Mas seus amigos ajudavam. A mãe era um bocado orgulhosa. Não aceitava favores, mas não percebia que faziam a ela o tempo todo. Se a mãe soubesse desse problema, dizia um deles, era capaz de colocar-lhe em fraudas. Era justamente esse amigo que o limpava. Ficou normal ver o menino em pêlo; acabou sendo normal pros outros. Se pegavam, às vezes. Leônidas sempre teve o pênis maior. Era legal, sentiam uma coisinha engraçada.
Até que ficaram maiores. E começaram a reparar no mamilo aceso da menininha sem sutiã. Foi nessa época que um dos amigos trouxe a Leônidas, quando a mãe não estava em casa, uma dessas revistas de puto. Leônidas deixou a revista em cima da cama e foi folheando como podia. Eram gatas. Nunca tinha visto um peito daqueles. Não saía muito pra rua e a mãe era uma vareta. Pensou que ele poderia lamber aquele peito, enfiar a cara no meio deles. Depois, viu pela primeira vez uma vagina. Não sabia o nome nem pra que servia; mas já sabia falar "boceta" quando a mãe fazia berinjela no almoço. Olhando a vagina, pareceu entender tudo. E teve tesão ao pensar em enfiar os dois bracinhos cotocos naquele buraco. Enfiar e tirar, batendo os braços lá dentro. Tesão. Instinto.
Primeiro, lembrando das suas brincadeiras quando criança, ele sabia mais ou menos como usar a revista, mas precisava de mais alguém.

A descoberta
Não, não precisava porra nenhuma. Pôs o bracinho dentro da calça de moleton e com os toquinhos tentava fazer o movimento, mas seu membro estava muito seco e doía um pouco. O braço também não ajudava; a união dos pulsos no pau ficava em "v" e não pegava direito. Olhou para a pia do banheiro. Teve uma época que o cano da pia era pra fora e jogava a água no piso. O cano era quase na altura do pau e não era muito grosso. Como era úmido, era fácil gozar lá dentro. Mas a mãe havia mandado consertar. Era frustante se ver sem opções.
Tava morto de vontade de gozar sozinho. Se sentia quente, o pinto e as bolas pedindo para serem pegados. Olhou pro seu bracinho toquinho. Ele, frustrado, olhou pra si. Era um merda. Um merda com um pinto grande e sem uso.
No desespero, olhou ao redor. Viu, em cima da escrivaninha, o canudo da formatura da mãe. Ela sempre dizia que era um orgulho pra ela. Não pensou duas vezes: pegou o canudo como pôde, colocou no meio das pernas e tirou a tampa com a boca. Virou e arrancou a outra tampa. O diploma caiu no chão. Quando conseguiu, sorriu. Foi pra perto da revista e enfiou o canudo no pau. Ficava um pouco largo. Então, foi até o cesto de roupa suja. Colocou o canudo na boca pra não cair. O cesto estava cheio. Pegou as primeiras peças que viu. Eram as calcinhas da mãe. Voltou pra revista. Usando uma caneta próxima, colocou-a na boca e com ela empurrou as calcinhas para dentro do canudo. Colocou o pau de novo. Agora tinha apertado um pouco. Levantou com os dois bracinhos o pau encanudado. Na extremidade que apontava pra ele, cuspiu dentro. Algumas vezes, até se sentir molhado. E então, mordeu a borda do canudo e, com a ajuda dos bracinhos a princípio, começou a bater sua punheta, que mais parecia um auto-boquete. De rabo de olho, olhava pra revista. Gostosa. Meu braço nesse teu buraco. Minha cara no meio de você, gostosa (e mordia o canudo), gostosa (cuspia dentro), gostosa (lembrava da calcinha da mãe, devia ser pecado). Arrrr!
Em tiro, o gozo vai parar na própria boca. No nariz, no canudo. Meleca, tesão, arr! E Cristo fitava a cena, crucificado.


Se esquece na cadeira. Respira, olha um pouco pro teto. Tinha que se limpar. Puta merda. Vai começar a tirar o cano quando olha pra frente e vê a mãe. A cara suja, o canudo no pau, revista pornô e o diploma no chão com respingo de gozo.
A mãe podia aturar a vergonha de ter um filho assim. Mas naquele estado, não. Cristo não permitiria. Era uma provação. Tinha que sacrifica-lo, assim como fez Abrãao. Assim como a família de Sodoma saiu da cidade largando todos sem olhar pra trás. Assim como Deus puniu os impuros com o dilúvio.

Leônidas
Era um escritor brilhante. E ainda ganharia milhões escrevendo. Só não sabia disso. Nasceu com as mãos e os pés atrofiados e desformes. Praticamente não tinha nem mão e nem pé. Foi obrigado a amputar.
Mas se perguntassem a sua opinião sobre a vida, diria que foi do caralho.

11 comentários:

  1. A necessidade faz o sapo pular.

    Prof. Janderson Council
    jandersoncouncil@gmail.com
    www.blogdoescroto.wordpress.com
    @blogdoescroto

    ResponderExcluir
  2. Você me fez pensar em um monte de coisas com esse texto brilhantemente escrito e falando de uma forma de sexualidade da qual não se costuma falar, ainda mais desse jeito.... demais.... nojo de viver, alegria de ser....

    Bj.

    ResponderExcluir
  3. Nossa que postagem impressionante! Gostei até do finalzinho! ^-^ A parte sobre "a sorte de não ter amigos babacas" é muito boa. A relação de vagina com berinjela foi muito boa. Aliás me deu fome! ...hihihi...

    Adorei a postagem! Seu blog é bonito com essas fotos artísticas! =)

    Abraços!

    http://neowellblog.wordpress.com/super-blogs/

    ResponderExcluir
  4. Muito bom.

    E todos nós, com seus talentos e dons que dizem ser doados por "Deus" ou "Deuses" não deixamos de ser homens-animais e de ter os instintos mais profundos e simples. Falar da sexualidade sem pudor, com a naturalidade que se deveria ter sempre, gosto disso.
    paz e luz.
    http://tamararoots.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. Gostei MUITO do seu blog!!! E que post INTENSO, héin... de uma provocação inquietante e ao mesmo tempo, até com certos pontos de humor!

    "E Cristo fitava a cena, crucificado." Fiquei imaginando essa conclusão cênica, rs.

    Quando puder, visite o meu (é um blog sobre tudo): www.vemaquinomeublog.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. hahahaha
    Amei
    E foi-se o diploma tão amado da mãe beata!

    ResponderExcluir
  7. um texto bem intenso.
    a tua forma de escrever é diferente das demais e isso lhe dá autenticidade.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  8. Escreve muito bem vc parab´nes prlo blog.

    ResponderExcluir
  9. Sei que não gosta do branco dos dentes, mas me fez sorrir. Valeu.

    ResponderExcluir

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails