sábado, 6 de novembro de 2010

Ester



Tem coisas que não precisam de dinheiro. E cheirar é uma delas.
Ester sentou na frente do bar e esperou os fregueses. Até chegou alguns, a cumprimentaram, mas não eram esses fregueses que ela estava esperando. Tava um dia meio morto, um sábado com cara de segunda, dia muito quente. Passou um cara fumando, pediu um cigarro. Pediu o fogo. Fumou. Passou meia hora e nada. Talvez fosse melhor ela ir pra outro canto.
Quando estava decidida a ir embora, viu chegarem os caras. Ah, era começou de mês, deviam estar com uma boa grana. 4 cabeças. Era hoje. Estavam abonados mesmo, chegaram pedindo as garrafas ao invés das doses. Ela olhou pra ver quem era o mais bonito. Foi até ele, oferecida em cio. Ria, pegava no braço, abraçava, beijo no rosto, olhadas. O cara se empolgou fácil. Homens geralmente são burros pra essas coisas. Por isso, não demorou para entrar no assunto de farinha.
- Ei menina, viu o cara?
- Ele tava por aí.
(ele passa quarenta reais na mão dela)
- Arranja quatro pra gente lá, vai.
- Daqui? Não, daqui não. Tem um lugar que vem uma melhor, mais servida. É aqui perto, demoro uma meia hora. É de quebrada.
- Ah é, mas vale a pena esperar tudo isso?
- Pergunta pro seu amigo, ele me conhece (falava do bonito, que acabara de conhecer). Se quiser, algum de vocês podem vir junto comigo.
Os homens se olham. O bonitão deles se oferece pra ir com ela. Vão.
O lugar realmente não era longe, mas a demora logo foi justificada. Ester gruda o cara na parede, embaixo da ponte, meio escondido. Começam a se pegar, se beijar, ele chega a abrir o zíper da calça. Parecia que tudo aconteceria ali mesmo. Não que ela não houvesse feito isso antes e que não que não faria outras milhares de vezes na sua vida, mas sabia que ainda não era a hora. E tava louca de vontade de dar seu tiro. Acelerou o cara e foram pegar a cocaína. Logo estavam de volta.
Ela vai direto no cara que lhe deu o dinheiro. Dá a droga na mão dele e chama os outros para ir do lado do bar, num lugar mais escondido. Ela abre caminho, se rebolando. A coisa foi rápida. O cara estava com um pouco de pressa e trabalhou a droga logo. Esvaziou a cápsula em cima de um livro, tirou um cartão, fez as carreiras e já cheirou a sua. Os outros foram em fila, ela em segundo. Aquela era boa mesmo. O cheiro de química ficou no ar por alguns instantes. Voltaram pro bar.
Tem coisas que não precisam de dinheiro. E beber é uma delas.
Ester viu os caras bebendo e falando muito. Homens não assumem que não conseguem mais beber, passam a garrafa pro lado. E todas as garrafas chegavam até ela. Ela bebeu, muito. Começou a rir, a falar tanto quanto eles e a claro, querer mais um tiro. Cheira de novo. Mais um gole. Mais um beijo, uma pegada. Algumas pegadas. Mais de duas mãos. Apesar disso, o bonitão dá a ela muita atenção. Conversa sobre família. Talvez dê em algo mais. Mais um beijo. Maconha. O dobro de risadas. Cocaína. Cigarros. Contini, tequila, Red Label. A cabeça estava começando a ficar pesada e foi aí que se lembrou do seu objetivo. Tinha que parar. Eles iam continuar nessa farra a noite toda. A maconha estava fazendo efeito.
Do outro lado do bar, um homem fitava a cena. Os caras rindo e dançando com o nariz todo branco, falando alto demais. Isso o estava incomodando. Ele já sabia que aquelas pessoas estavam cheirando coisas de fora e era obrigado a tomar providências. Um traficante tem que manter a casa. Sabia que a culpa era da menina. Não seria a primeira vez. Então, tranquilamente, deslizou até perto de Ester. Tirou sua faca de dentro do bolso e acertou duas facadas na bunda dela, uma em cada gomo.
Ester olha aterrorizada para trás, com as mãos nas nádegas. O sangue ia manchando a calça e escorrendo até a sandália. Os homens que estavam com ela se assustam. Um deles vai conversar com o traficante. E óbvio, dá razão a ele e põe a culpa na garota. Pega dois pinos com ele, une os outros três homens e os chama para irem embora.
Ester não se importa tanto com as facadas, que apesar de doerem, mais foram um aviso. Ainda tinha um objetivo, o mesmo do começo da noite. Vai até o bonitão, chorando com a mão na bunda, diz que está com fome, se dá pra arranjar uma grana pra ela comer um x-salada. Diz que mora na rua e também não tem lugar pra dormir.
O homem olha pra ela, com nojo.
- Vai se foder, sua vagabunda. Tá achando que vai arrancar dinheiro de mim?
E sai o bonitão, meio cambaleante, junto com os outros três homens.
Ester tinha certeza que sabia o método certo de conseguir as coisas. Afinal, porque precisava de dignidade se tinha fome, ela pensava.
Tem coisas que não precisam de dinheiro. Mas para um morador de rua, travesseiro e comida raramente fazem parte delas.

19 comentários:

  1. Gostei, mas um pouco violento, não?
    Acho que vou ficar apaixonado se continuar a ler mais posts.

    http://fogodeletras.blogspot.com/

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  2. uau! segundo post seu que leio no dia. Estou realmente de boca aberta. Impressionante sua forma de escrita. A frase final sobre a fome e a dignidade foi incrível.

    http://umdiaentenderei.blogspot.com/

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  3. 'tem coisas que não precisam de dinheiro'

    esqueci de respirar enquanto lia o texto. :x


    muito bom. mesmo. (:

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  4. Seu texto realmente me arrebatou. Não sei se é por conta do viés "morador de rua" no final dele, mas realmente me senti lendo uma história real.

    Parabéns pelo dom! Não desista dele.
    Abraços!

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  5. Dentre as coisas que não precisam de dinheiro, dificilmente não estará a necessidade humana.
    Ótimo texto.

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  6. OH MEU DEUS!
    que coisa profunda, eu gosto de ler historias assim, pois vou imaginando cenário, as pessoas e tudo mais, rs
    muito interessante a historia...


    uma obs.: na parte: "Ah, era começou de mês, deviam..." você escreveu começou, entendo que queira dizer Começo, enfim.. belo blog, estou seguindo... beijos!

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  7. calma querida
    pra que descer o nivel assim???

    o fato de vc sair sabe lah Deus de onde pra perder seu tempo indo sóh chingar no meu blog mostra o quão fútil vc éh...

    no mais... vá procurar um namorado
    e tente aliviar seu extress

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  8. he fica perdendo seu tempo indo bagunçar o blog dos outros, procura o q fazer mocinha... vc jah deve trer idade pra saber o q quer da vida

    eu espero

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  9. ta..... esqueci entao... mas procure gastar seu tempo com o q realmente vale a pena

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  10. Não sei o que falei no seu blog, mas se foi alguma coisa que você não gostou, posso apagar, falar que achei seu blog incrível, que queria ter seu talento, que você explana muito bem o tema, te seguir e colocar seu banner no meu blog. ¬¬
    Hahaha
    Relaxa cara. Não quer brincar, não desce pro play.
    Fuck off.

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  11. querida... vc chegou lah falando de "rola" e "cu" e ainda diz q nao sabe o q falou ???

    nao precisa vc apagar nao q isso eu jah fiz...

    nao boa... se éh pra tumultuar... nao volta mais lá não...

    e como eu disse antes... eskeci... isso nao vai levar nenhum de nos a lugar nenhum...

    you, Keep dreaming...

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  12. É meu jeito de falar, bonitão. Só ler meus textos. Não se ofenda de graça, cara. Você estava falando sobre um monte de gente que segue uns aos outros sem ao menos se dar ao trabalho de saber pra que porra o blog serve. Nem te lêem. São números medíocres para um ego grande se manter feliz.
    Não tenho o direito de achar isso e me expressar? Não fui tumultuar não, só achei ridículo e falei.
    Não se ofenda com minha opinião. Se é o caso, apenas não a aceite.

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  13. "É meu jeito de falar, bonitão."

    já vi q eu nao perdi nada entao... imagina eu parar pra ler algo e encontrar um texto falando de "cu" e "rola"... puta merda, eu gosto de conteudo bom querida...

    quanto a opiniões... claro q vc pode ter a sua ... eu aceito todas... desde que tenham algum conteúdo...

    continua aí... segue sua vida falando em rola e cú por lah q eu sigo meu caminho aqui...

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  14. Firmeza. Siga sua vida sem rola e cu. Só acho que vai ser complicado, rs.
    E gosta de conteúdo? E quem tem conteúdo lá fica pedindo seguidor? haha
    Bem, beijão. Vou te ler. Se você postar alguma coisa legal, eu te elogio.

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  15. Puts, você é muito perigosa. Dá facadas na minha alma. E estou com a bunda doendo também, além do coração.

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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  17. Mil vezes cu, mil vezes rola, quer melhor?

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Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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