segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Laranja Orgânica




Nestes últimos dias, tive uma overdose de paz. Fui ao parque e passeei em torno das árvores. Quando achei que estava muito calor, de repente a temperatura abrandou e veio aquela deliciosa brisa fria na minha cara. Estava prestes a reclamar do canto do pássaro – aquele compasso repetitivo me irrita profundamente – quando o bicho se calou subitamente, como se acabasse de levar uma pedrada no bico.
Olhei para aquele que me acompanhava e lembrei como há alguns dias estava com raiva dele; mas ao me dirigir a ele, não consegui fazer nenhum comentário irônico. Ao invés disso, eu sorri sem aviso e claro, me assustei quando me percebi sorrindo.
Enquanto eu tentava entender o porquê daquela crise de docilidade, que me coordenava os movimentos sem pedir permissão ao que de fato penso, minha mão foi tomada e ganhou um beijo, meu ombro foi aliciado e meu ouvido estava sentindo muito mais batidas do que o comum, vindo daquele outro coração que estava ali. E desse jeito estacionou por horas aquela tarde, eu com um vazio na cabeça que me agoniava, mas do qual eu não vi maneira de me livrar.
Ou então no dia em que reunimos os amigos. Conheci outras pessoas muito legais e ficamos cantando e tocando qualquer música que viesse à cabeça, com qualquer dos instrumentos que estavam presentes. Sentados no chão, vendo pinturas, bebendo e conversando sobre qualquer assunto, sem debates. E enquanto isso era abraçada por uma mão que não se esquecia de mim, e ininterruptamente ficou a acariciar o meu braço. Andei até antes de cansar os pés, ri até antes que me doesse a barriga e fui embora antes de, de fato, estar cansada.
Era tudo de uma uniformidade que me incomodava, que melhor ainda dizendo, me dopava. Um roteiro lindo, até mesmo para mim; mas mesmo no meio das músicas ácidas, da naturalidade, da fumaça de cigarro e do gosto de uísque, eu não pude deixar de me sentir em uma igreja, como se orasse daquela forma e ouvisse o silêncio surdo dos risos curtos, assim como um monte de beatas dizendo “amém” e “glória a deus”.

Eu estive internada em alguma religião, por esses dias. Amando a um deus ou a um diabo e recebendo em troca a paz, vinda com um anestésico que me deu um branco. Fiquei com medo de não conseguir pensar sobre o que aconteceu depois, já que não consegui pensar durante. Mas eu pensei, desta vez, sem pensar.
E de boca e cabeça fechada, estava orando. Só sentindo algum tipo de benção e agindo tão gentil e tão tolerante como nunca me vi.
Agora, isso me dá náusea e um vazio grande. Mas também um tipo estranho de alegria, que eu ainda não havia experimentado.

Acho que, mesmo de forma tão estranha, minha cabeça se abriu um pouco mais; e me fez entender - "entender" de modo "Tomé" - que a loucura e o caos são em mim muito mais do que arte.

11 comentários:

  1. Blog legaal!Gostei do titulo!
    Estou te seguindo ;*

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  2. Amei seu texto! Gostei de como vc transformou a "loucura" em doçura. Pelo menos assim que eu entendi principalmente na parte q vc fala:

    Acho que, mesmo de forma tão estranha, minha cabeça se abriu um pouco mais; e me fez entender que a loucura e o caos são em mim muito mais do que arte.

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  3. Tem vezes que nos deparamos como uma situação incrivelmente estranha a nós..
    Principalmente nos instantes em que tudo se acerta e converge em uma paz esquisita.. um viver diverso do usual..
    Um pouco de doçura na loucura... ou seria o contrário?

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  4. começo meio sombrio mais depois foi ficando legal*

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  5. Báá! curti...Noo breu AUHASUH
    a la ranja orgânica muito bom...

    muito trii!

    veja blog meu xD
    http://tripmiller.blogspot.com/

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  6. Texto acido, figura o extremo e sagaz comportamento volatil!

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  7. e a paz tbm vira arte e, através da sua arte, contagia, muito mais do q simplesmente paz, né?! q texto lindo...

    "Andei até antes de cansar os pés, ri até antes que me doesse a barriga e fui embora antes de, de fato, estar cansada." Isso deve ser muito massa.

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  8. "Se queres paz, prepara-te pra guerra, se não queres nada, descansa em paz."

    Quem manda semear tempestade?
    Agora colhe o vento.

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Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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