quarta-feira, 30 de junho de 2010

28 aftas




O menino sempre teve muito a dizer e sempre disse tudo o que veio à cabeça. Até que foi tomado por uma doença que fez nascerem 28 aftas, espalhadas entre a língua, a gengiva, os lábios, o céu e as paredes da boca. Desde então, toda vez que a abria, sentia uma grande dor e ainda saia um fétido odor de pus. Por isso, foi obrigado a dizer apenas o necessário. Começou a passar mais tempo observando e pensando do que falando; e sorriu ao perceber quanta idiotice deixara de dizer.
Dessa forma, foi adorado e se sentiu sábio - inclusive porque todos os julgavam da mesma forma, afinal não fazia parte do necessário a dizer ser arrogante. Elaborou novas razões para o mundo, foi aplaudido e diziam que jamais haveria alguém como ele.
Até que o menino teve a mente e os olhos aprisionados por uma moça de cabelos longos, a quem a vergonha permitia de longe. Após muita angústia, finalmente se aproximou dela. Mas descobriu que não sabia o que dizer, afinal nada daquilo que queria falar era necessário. Era na verdade arriscado e humilhante.
Descobriu em sua cabeça um vácuo, mas abriu as cortinas para encenar para sempre suas poucas palavras, que não supriam tudo aquilo que sentia.
E assim morreu o gênio, burro e infeliz.

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