sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Nada efêmero ano novo


A menina caminhava pela rua morna, tranqüila, deslizando pela calçada inclinada da rua cinza. Ia com uma sacolinha às mãos, sonhando com a hora em que iria encontra-lo, um pouco mais ao fim do dia, quase lá pelas onze da noite. Era dia 31. Via as pessoas em correrias, para acertar os detalhes finais da ceia de fim de ano.
E ela, sentia quente a mão ao segurar a sacolinha, que guardava uma pequena lembrança; só para que ele soubesse que ela se lembrou dele, que se importa. Ela sentia que era correspondida, pela atenção que ele lhe prestava, pela forma como lhe falava. Sempre pareceu sincero, por mais que ela já houvesse tido cólicas quanto a isso.
Mas dessa vez, não haveria porque se enganar. Gostavam mais ou menos das mesmas músicas, achavam mais ou menos as mesmas coisas efêmeras; as piadas tinham o mesmo tipo de humor. Ela achava o máximo ele adorar ouvir seus comentários sobre arquitetura, esculturas e sobre as memórias que tinha. Ninguém era como ele. E esse fato deixava o coração trêmulo, com o passar da hora, que se arrastava pelos minutos.
Após tanta espera, tantas frases elaboradas para tentar dizer o que ainda não havia dito, após reconferir a maquiagem tantas vezes e arrumar os cabelos, os olhos viram ele chegar.
Completamente bêbado.
Ela não se importou muito; em breve, se ele parasse de beber, estaria sóbrio. E aproveitaria os fogos de artifício junto dela. Ainda estava com a sacolinha nas mãos, mas ele nem percebeu. Ele ria alto demais, tentava agarrar a menina, fazia as piadas erradas com pessoas erradas. Até que, em um dos agarrões, ele pareceu que ia beija-la. Mas não foi assim que a doce menina havia imaginado. Não, não era assim. E assim, ela não queria. Assim, ela tinha medo.
E foi neste medo, a um minuto de badalarem os fogos no céu, que ela o ouviu bebamente dizer:

"Por que você não deixa o temor de lado e aproveita enquanto está em vida certas coisa que são efêmeras? Tudo é efêmero! Fodam-se as memórias, foda-se a história, foda-se a arquitetura, a tecnologia, as esculturas e os logradouros; tudo isso ficará para baratas, que em vao são mortas a pisões! Menina, eu queria saber quem é você, mas não tudo sobre você. Tudo pra que? Basta o suficiente para um dia te beijar, meter e dormir num hotel. Não, não dormir, meter. Meter a língua na sua boca, meter o pau na sua buceta, meter a língua em você, te banhar. Me lavar e meter a língua na sua boca, brigar, briga de língua e só!"


E então, rasgam os fogos no ar.
Sorria, menina. Feliz ano novo.


23 comentários:

  1. Gente CHOQUEI!

    hehehehe!

    Muito massa sem PALAVRAS!

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  2. Intrigante e interessante ao mesmo tempo.
    Gostei!

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  3. Eu não vou gastar outro "pff" com isso.

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  4. Muitas vezes nós, mulheres, nos decepcionamos com aquele ser supra real a quem dedicamos grande parte de nosso amor e carinho. Ainda assim, prefiro um canalha sincero como o da crônica do que um canalha enrustido que é capaz de se passar por bom moço durante longo tempo.
    Parabéns pelo seu blog. Amei os textos e sempre que puder volto aqui.
    Bjs!

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  5. Ah, sim, sensibilidade pra pisar em cima e não lembrar disso.

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  6. E eu achando que meu ano novo era uma droga...

    Perfeito (Esse eu aplaudi)

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  7. Manda ela ir se lascar, não é só ela que não gosta do ano novo dela ¬¬ haha. Gostei do post! Parabeéns pelo blog!

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  8. Eu sou este tipo de homem, adoro ouvir falar de temas elevados, mas também adoro ser depravado. Se meu pai não prestava, por que logo eu prestaria?
    Beijos sexuais!

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  9. hahahaa, ótima crônica, uma das melhores que eu ouvi.

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  10. Pobre menina, que desilusão... Texto muito bom, parabéns!

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  11. Ela se fudeu, ou talvez tenha até gostado dessa liberdade do casual.

    Mas o talvez é sempre uma merda ¬¬

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  12. eu acho q esse cara mentiu. ficou bêbado pra mentir. e pq ela nao acreditou, ela deu pra ele. rs

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  13. beijos sexuais beijos sexuais beijos sexuais beijos sexuais beijos

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  14. que perversão de ano novo. A verdade do bêbado é melhor que a mentira do lúcido =D

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  15. ele fez mesmo isso? ha! que grande filho da puta, rs

    cara, acho que o amor a fez/faz superestimar de mais essa teoria. Parece é uma dessas super filosofias de adolescente inconsequente com pitadas de sacanagem para deixar interessante. Foda-se tudo isso? Nada disso realmente importa?

    rs, nao sei o fim dessa historia, mas ele conseguiu mesmo encantar a menina. Já estava encantada nessa ocasião.

    haha e a lembrancinha na sacola? já sei, foda-se. Se fudeu e foi descarga a baixo, junto com tantas ideias e sonhos idiotas que estouraram junto com aqueles fogos
    tsc

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