Após o pôr do sol.

Aquela foi a tarde mais feia que já se viu.

Não tinha nem meia gota de charme ou de graça. O céu estava ridículo sem suas nuvens, o sol cruel chicoteava meus braços nus, umas meninas magrelas estavam enfiadas em baby looks que exibiam as costelas secas e as putas pareciam maracujá depois do suco.

Os feirantes estavam com sono. O tempo estava seco. As crianças estavam chatas, enchendo o saco dos pais por causa de um trambolho hi-tech.

Os seguranças pareciam membros da Spetsnaz, as coxinhas estavam com cara de ontem e o churrasco grego era um churrasco grego. A água estava quente, o café estava bege, o sorriso estava sem rir, as cores estavam sem cor e quando tinham, eram cores demais, argh! (Eu, por nada, me olhei no espelho e me vi mais feia do que nunca.) As danças estavam tensas, as brigas estavam... credo, elas estavam frias!

Cada detalhe, de todo o resto, parecia parte de um acrônimo para uma palavra gigante que significa a feíura e a sem-gracisse em estado pleno.

Até o andarilho, assustado, foi tomar um banho de garrafa e fazer a barba.

Foi no meio disso, que eu vi surgir, atemporal e indiferente a tudo, um beijo. De uma beleza tão momentânea, de movimentos tão sentidos, que por um instante eu sorri.

Mas êta porra. Que tarde feia.