Andarilhando.

Minha paçoquinha,

Parecia que há tempos eu não sentia o vento no rosto.

Como deve ser sentido, mesmo.

Estava eu, no meio do breu, pisando na luz alaranjada dos postes velhos e sujos, desviando das poças. Com uma intimidade que me sugeria que jamais estive longe daquilo. Haviam pessoas, havia movimento, mas na verdade não havia nada. Era o vácuo me convidando para sair, no meio da madrugada.

Ah, ela tem uma alma.

O escuro do céu tem uma força, que me joga para fora de todas as sensações do mundo.

Ah, esta madrugada! Que me dá a chance de sentir qualquer coisa em sua totalidade, após me esvaziar. Estava eu, naquele grande palco, fazendo aquele teatro, aqueles passos decorados, como se não os fizesse por roteiro;

E sim porque eu tinha vivido tudo, até então, só para naquela hora estar ali. Naqueles passos. De repente, apenas estar ali, sentir o vento rústico, ser coberta pelo escuro da noite, era a única coisa que devia ser feita.

Eu não tinha resistência. Teve algo que senti ontem, ao estar no meio do nada, que quase me pôs a chorar.

Eu fui feliz. Estou ainda, tão feliz. Por um instante, sem pensar em prós e contras, eu estava abraçada a todos os sonhos. Todos possíveis.

Todos lindamente possíveis.

Ah, eu amo o breu, eu amo a noite! Uma trilha sonora, por favor.