sábado, 21 de janeiro de 2017

Como me encontrar

Você vai acordar em um dia cinza. Acordará com preguiça, mas logo se sentirá disposto e falante. Sentirá muita sede. Dará alguns passos em torno de si mesmo e logo irá querer sair de casa. Para nenhum lugar especial. E não convidará ninguém. Vai abrir a porta e estará chovendo, bem forte. As ondas que as gotas de chuva formarão nas poças deixarão uma felicidade difícil de explicar. Quase irracional. Você vai se sentir como se nada pudesse destrui-lo. Como se encarnasse a própria natureza.
Vai sair de casa na tempestade e andar a ermo. Vai sentir a água penetrar na raiz do seus cabelos, na sua boca, nas suas meias, nos seus ossos. O vento estará forte e não terá ninguém na rua. Ou terão algumas poucas pessoas, correndo. Enquanto você anda lentamente, olhando fixamente para algum nada a frente.
Você vai sentir frio. E vazio. Quando a noite chegar, negra e sem estrelas, você entrará em algum estabelecimento. Comerá algo simples, mas com muito tempero. Beberá a cerveja mais barata. Conhecerá e rirá de assuntos absurdos e fará forte amizade com alguém que nunca mais vai ver. Você não vai sentir a partida porque, quando racionalizar a situação, simplesmente já terá ido.
Vai chegar em casa cansado, as pernas doerão; E o sono não virá. Ouvirá música. E será provocado pelo que ouvir.

E escreverá. Tudo o que tiver, aonde der, como vier. Escreverá até os dedos se recusarem terminantemente. Como um maldito. Escreverá porque é o que resta, porque naquelas linhas sim, você existe. Porque ali seremos eternos e ali, sempre estaremos juntos. Mesmo que nunca sequer tenhamos nos visto.

2 comentários:

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails