domingo, 25 de dezembro de 2016

Incômodo

Era um meio de rua de uma tarde toda atrapalhada, de uma sucessão de erros que começou lá no ano que existiu. Vinha com uma sacolinha balançando uns pães franceses e umas pontas de frios de coloração bastante suspeita, pensando no que faria para resolver de vez a porra da vida. Bateu o cansaço de encontrar qualquer pessoa que fosse que fizesse qualquer pergunta trivial pessoal: se ainda trabalhava no mesmo lugar, se casou, se fez faculdade, se viu algum sei-la-quem de suma importância em algum passado sonolento.

Mas queria resolver a porra da vida, pensava, enquanto a sacolinha batia nas pernas. Talvez fosse isso mesmo, arrumar um casório, um trabalho em algum lugar espalhafatoso, vestir roupas passadas e novas.

Que tipo de gente passa roupa? - pensou, com a cara amassada.

Vinha um carro. Se aproximou da calçada, depois voltou pro meio da rua. Fazer essas coisas para que finalmente tivesse sossego, pensava.

Passou outro carro. Tropeçou numa pedra ao se aproximar da calçada, desta vez. Tropeçou em várias pedras no meio do caminho, mas continuou pelo meio da rua, de cara amassada, de pão na mao. Achou a evolução nas palavras de um bêbado. E percebeu que a única coisa que realmente incomodava era uma dor nas costas.

Um comentário:

  1. Tão simples e com tanta força.

    É o caminho das suas palavras.

    Saudade.

    Cleber.

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Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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