Hahaha

Saiu de casa batendo a porta e dizendo que jamais voltaria. Mas pegou as chaves antes de sair e já foi se arrependendo de tudo o que disse tão logo chegou a primeira esquina. Mas não ia admitir tal fraqueza, a vergonha de voltar, ia sim, voltou pra casa e colocou um bife pra fritar na frigideira. Passou pela porta e a viu sentada com cara de tédio, um riso sutil no canto da boca mas que já ferrava com toda sua autoestima. Pensou em não dizer nada, era só um bife, ela disse que não cozinharia mais sozinha e ela era tão importante e tinha a louça, nunca lavei a louça nem na casa da minha mãe, dizia com um orgulho que ninguém imaginava de onde poderia ter vindo. E aquela história de sair sozinha, que pensariam os outros, ele sim podia mas qual era a diferença? E tudo ia ficando incoerente e sem resposta, mas era assim porque era pra ser assim mesmo e ela ainda estava ali, parada. E está decidido, não ia dizer mais uma palavra sobre o assunto.
Não ia dizer nada mas disse, disse que era um drama, que ela era histérica, que cada um tinha seu papel, que ela queria mudar o rumo natural das coisas. E ela disse que o papel dele era aprender a se virar feito qualquer adulto. Ele era adulto e homem, era homem e viu no espelho como era um grande monte de homem, mas ela encostou no seu braço sem nenhuma força, olhou no seu olho sem nenhum desespero e olhou com aquele olho castanho de todo mundo, nada de fabuloso mas aquilo era tudo. Ela disse que iria embora e ele subiu a escada como quem não ligava, entrou em seu quarto, se amontoou num travesseiro e em seguida correu desesperado escada abaixo, roeu todas as unhas neste meio tempo, pensou em comprar flores e a xingou de tudo logo que não a viu lá.

Ela já havia passado da esquina, fazia algum tempo.