sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Resta um

Forte feito uma rocha, perco meus documentos e mochilas, perco cartões de banco, dinheiro estabilidade. Punho cerrado e olhos fora de órbita, um incêndio implacável, atrasando contas, esquecendo chaves, perdendo horário, esquecendo compromissos, negligenciando
Falando em alto e em bom som, sem medo, sem pudor, sem travas, sem reconhecer sua autoridade, sem reconhecer sua supremacia e sentindo dor, apanhando e batendo, sentindo a carne rasgar no asfalto, descendo escadas como um quadrúpede
Fiel até o fim, valente até cair morta, burra, louca inconsquente Trabalhando com o que ama, dando esforço e dedicação verdadeiros pra queimar o salário, pra perder, pra sentir fome, pra ver até aonde consegue, pra saber se é de verdade mesmo essa porra, até onde faz diferença, o que faz diferença. Pra se coçar, pra aprender novas formas de girar mais rápido a manivela.

Agitar a cabeça com tudo que tem dentro do peito, estar sozinha no meio de vários, estar em silêncio com todas as possibilidades em sua cabeça, sentir a brutalidade do metal negro mover todos os sonhos de areia, todos do seu reino infinito de castelos que serão destruídos tão logo criados

Corpo alquebrado, cansaço em um ônibus lotado pela manhã de uma noite não dormida e dentro do peito um único motivo, uma eterna fúria, uma capacidade enorme de mudar o mundo depois de tão bêbada, depois de tão sóbria em pernas que não se agüentam, uma casa que espera e roupas que rasgam, comidas que não são repostas, sujeira e cheiro de mofo, documentos como marca-página de livros, cds fora de suas caixas e me deito ali mesmo e desabo de hálito de pinga podre, de memórias recentes, de uma dignidade apaixonada que não resolve nada

Andar na madrugada e sentir o vento, correr pra rua porque chove, correr do último limite, abrir fendas no tempo, na minha vida, no tédio e tacar fogo em tudo, retorcer tudo, ver como ainda é possível, tentar de novo, conseguir do jeito que der, correndo perdendo ganhando e rindo com demência por dentro por dentro por dentro

3 comentários:

  1. A única escritora que eu conheço que diz, toca e emociona.

    Não deixe de escrever.

    Sei que não liga pra isso, mas você é admirada, admirável.

    Cleber Vinícius.

    ResponderExcluir
  2. http://www.camarabrasileira.com.br/

    Acesse, se te interessar...

    Bjs, irmã.

    C.

    ResponderExcluir

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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