quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Seco.



Como todo dia que anoitece e toda manhã que chega, sentia no cotidiano sempre o mesmo gosto. Em tudo. Sentia sede. As coisas que havia conseguido, as sensações, as pessoas. Tudo tinha o mesmo gosto daquele pão com manteiga que comia, naquela hora, pela manhã.
Foi até cada coisa que mais gostava de fazer. Elas ainda lhe davam uma sensação diferente, mas nada parecia ser comparado a uma ansiedade de sentir. Aliás, sentir, sentia a todo momento; raiva, desprezo, contentamento etc etc. Mas falava de sentir algo real, algo que mexesse com seus brios, que a tirasse do eixo. Alguma coisa incontrolável, além de sua vontade. A isso chamava de verdade. Compromissos, rituais de boas maneiras, conveniencias, tudo lixo. Tudo falso. Tudo parte de "bom dia", " como vai", "novidades?" . Sentia cada vez mais sede.
Usou todas as drogas possíveis, experimentou todas as conversas possíveis, sentiu o cheiro das pessoas, usou-as do verso e do inverso. Como um cozinheiro que extrai o máximo do suco de uma fruta, até a última gota.

Nada. Estava envolta de pessoas secas.
Como aquele pão com manteiga, que comia pela manhã.

Um comentário:

  1. Como alguém lê algo assim e não comenta?

    Você é uma coisa impressionante.

    A melhor, apenas.

    ResponderExcluir

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

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