quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Mercado
Escondeu-se por trás dos olhos, desviados das pessoas que vinham a frente. Passou com seu carrinho de mercado desengonçado, abrindo espaço por entre pessoas com sacola, com filhos, maridos e amigos. Crucifixos. Olhou as prateleiras e viu ali de um tudo, o corredor repleto, os peixes mortos que se exibiam ao fim da parede. Mas eles não cheiravam podre. O podre vinha de olhos inquisidores, os perfumes vulgares do hálito, do cabelo, da barba. Das idéias.
Passou com o carrinho e buscava um pacote de bolachas. Mas não sabia disso. Estava apenas no corredor errado, com uma vontade de não sabia o quê, olhando a tudo aquilo que não lhe pertencia quando, no ali no meio, mesmo com algum dinheiro não tinha nada.
Domingo, família, almoço às duas da tarde. Visita à casa de amigos. Acessórios próprios a ocasiões impróprias a si mesmo. Roupas novas que nunca serão usadas. Um belo bacalhau, brilhando como ouro a sua frente, apodrecendo na inutilidade de sua vontade. Prateleiras de tudo a que poderia comprar, mas estava no lugar errado.
Não fazia mais parte. Voltou para casa, ligou o som, pegou papel e caneta e abriu a garrafa de saquê. E tudo o que precisava estava ali.
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Cotidianos fétidos.
ResponderExcluirGostei do competente niilismo deste texto e do clima de vários outros.
ResponderExcluirColoquei o link do Nobreu no meu blog e estou seguindo.
Visite, quando tiver um tempinho, www.randomatizes.blogspot.com