terça-feira, 9 de novembro de 2010
Morte e vida Josefina
Ah, no dia em que a idade chegou, as costas doeram de um jeito diferente. Mas ela, com problemas mais importantes na cabeça, fez questão de ignorar. Só que não adiantava, o tempo ia passando e os problemas se acumulando, as pernas já não güentavam andar tanto para pegar latinhas. O peito começou a doer toda ver que tossia e desde então, a tosse só tinha piorado. Parecia um gutural enfermo.
Foi então que começou a não ter mais controle do rêgo. E aí, não dava mais pra ignorar. As pessoas se afastavam dela desde metros de distância. Os papelões em que dormia se rompiam no meio da noite e recrutavam toda a sorte de parasitas. Olhando-se banhada em merda, teve de se levantar com esforço e rasgar sacos de lixo, tirar toda a imundice lá dentro e levar para forrar seus papelões.
Quando encarou seu improviso geriátrico, sentiu vergonha de sair dali para ver os conhecidos e até aquele paquera, que morava na ponte da frente. Pensando e tossindo e doendo e cansada, sem força.
Ela tava doente, mas não adiantava saber do que. Ela, em suas poucas palavras, sabia do seu papel social como decompositor. Já havia nascido com esse propósito. Se sustentou enquanto deu. Era agora, a hora dela de se decompor.
Voltou para sua improvisada cabana, sua história, sua resistência de barata, sua vida e sua morte.
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o mais triste de toda a historia, é com certeza ha gente na rua que passa por isso. Se já é vergonhoso para quem tem casa e pode comprar fralda geriatrica, imagine quem nao tem.
ResponderExcluirInfelizmente essa é uma história que retrata a vida de muitos brasileiros espalhados por aí.
ResponderExcluirEscreves muito bem. Passarei por aqui mais vezes.
Vejo isso acontecer todos os dias. É a vida, né...
ResponderExcluirSeu texto foi bem expressivo. Um problema social através de seus olhos resultou em um post bem criativo, embora retrate uma coisa lamentável. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirE cadê o otimismo?
ResponderExcluirDeplorável imaginar seres humanos nessa situação. São pessoas como nós...quando penso nesse tipo de coisa fico impressionada com a minha capacidade (e a da maioria das pessoas) de me abster de problemas tão graves me limitando ao meu mundo de faculdade, namoro, amigos e família. Essas coisas existem porque nós não nos movemos.
ResponderExcluirQue post Splatter.
ResponderExcluirAcho Agent Orange é um discaço também. Tá no meu Top 5, mas Slayer é Slayer.
Keep Hail
e o cotidiano de MUITOS se baseia nisso...
ResponderExcluirhttp://www.cabanadamaejoana.blogspot.com/
Um dos textos mais interessantes e fortes que já vi por aqui, com momentos engraçados, outros pesados e dolorosos.
ResponderExcluir"... sabia do seu papel social como decompositor..."
Demais isso.
Um dos textos mais interessantes e fortes que já vi por aqui, com momentos engraçados, outros pesados e dolorosos.
ResponderExcluir"... sabia do seu papel social como decompositor..."
Demais isso.
jhone sou eu, tá, é que deu uma treta no pc aqui, rs.
ResponderExcluirNossa, como eu consigo comentar como outra pessoa, jesuis....
A gente passa por pessoas assim todos os dias nas ruas e sente nojo, asco, repulsa, medo, raiva e nem se importa se essas pessoas tem uma história assim como a que você retratou. Faz a gente pensar um pouco mais no ser humano.
ResponderExcluirE retribuindo seu comentário digo que eu passei a aprontar pq me transformei em martir, tudo era eu mesma, mas isso me prejudicou bastante. Faltou ética e profissionalismo da escola em que estudei e não só no meu caso, como de muitos outros alunos.
Postei a segunda parte, se quiser ler aguardo sua visita (:
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
É... inúmeras histórias vejo pela janela.. o pior é que quem está do outro lado, as vezes, pode parecer enxergar o mesmo..
ResponderExcluirtem coisa pra você lá no ébrio (:
ResponderExcluirdá uma olhada:
www.e-brio.blogspot.com
"Sua resistência de barata. Sua vida e sua morte"
ResponderExcluirARREGAÇOU o.o
muito foda seu texto. Retrata a realidade de forma tão crua. Gostei O.O
Está mesmo de parabéns, vc escreve muito bem!
Interessante e triste... Com certeza é a realidade muita gente!
ResponderExcluirhttp://vivereler.blogspot.com/