quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Rafael, parte I



Olho vivo, medo pelas tatuagens que fechavam os dois braços. Alguém poderia se ofender com uma delas. Enquanto passava pelas jaulas, via as retinas de análise dos presidiários entre a janela de grade da porta de ferro. Tinha que escolher um daqueles lugares para ficar e, como orientação, só a sensação de que não era bem-vindo, assim como nenhum outro ali.
Decidiu parar de tentar escolher dentre tudo o que não queria e parou frente a primeira porta que viu. Ele parecia tão frio quanto seus nervos estavam quentes. Abriram a porta. Olho no olho. Ele sabia que a conversa devia ser curta e reta, sempre; que não podia usar das ironias que tanto gostava, que suas piadas podiam soar mal. Não ia poder dormir em qualquer lugar e nem se apresentar de qualquer jeito.
- Licença.
- Tire o sapato. Você fica ali.
E viraram a cara. O que falou com ele devia ser o faxina, que é o cara eleito pelos presos do barraco pra representa-los e também juízes, em alguns casos. Esse faxina logo ia verificar porque que ele havia caído.
Era tenso ficar calado, mas não havia nada a dizer. E teve a certeza de se manter calado quando viu a expressão satânica de um cara encostado do outro lado do barraco, olhando pra parede. "Assassinato", ele pensou. Alguém com aquela feição só podia ter uma lista de mortos nas costas.
Aí, pensou no seu crime. Extorsão. Ele ficaria pouco tempo ali, enquanto aquele cara deve ter anos de mofo pra cumprir. Enquanto aquele cara não tem mais nada pra perder, ele tem poucos anos e menos ainda se comportar-se bem. Mas poderia provocar a raiva daquele demônio saber que Rafael passaria poucos anos ali, enquanto ele continuaria a apodrecer lá dentro. Rafael poderia morrer por causa disso.
Ficou mais assustado ainda quando ao lado do assassino viu uma latinha amassada, com um furo. O cara fumava pedra. Perdido nos pensamentos, olhando sem olhar para o cara do outro lado, o demônio percebeu. Virou a cabeça devagar na direção de Rafael e encarou.
De súbito, ele percebeu para aonde estava olhando e deu um breve vacilo: trimilicou o olho e entreabriu a boca. O satã sorri de canto, levemente. Em breve, iriam conversar.

10 comentários:

  1. Coitado do Rafael .__.'
    ser preso deve ser o terror do terror...
    Gostei da forma como tratou o texto e tudo mais.
    Parabéns

    ResponderExcluir
  2. Interessante seu blog,
    e mtoo boom *--*

    ResponderExcluir
  3. aaaaah to com muito medo do seu blog! D:
    usahushauhsuahs mas tah da hoora serio!
    muito legal o texto... me deixou com muito medo mesmo... pq tah mt bem escriito! parabeens cara!!!


    http://quadrado-magico.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  4. Adorei o texto.
    Muito bom mesmo, parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Blog original, parabéns!
    Gostei do texto ^^

    http://literaturaegostosuras.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  6. gostei do texto.;...quero ler a continuação...

    ResponderExcluir
  7. - Ja estou seguindo o seu blog, curty ele, a imagem la em cima ta mto legallz,

    bjbj boa sorte com ele *--*

    ResponderExcluir

Olá. Você, sendo você mesmo, não é bem vindo aqui. Mas se você for qualquer outra pessoa, sente-se no chão e coma uma xícara de café.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails