Não havia muito tempo que o moleque aprendeu a se equilibrar;
Não havia muito tempo que começara a fazer compras de casa para a mãe, no mercadinho ou no açougue próximo. Havia, em verdade, alguns minutos. E na camiseta xadreza azul, fazendo bonito par com a bermuda jeans, ele foi rebolando o meio quilo de carne de queixo erguido. Sentia que já era um homem.
E no avanço da rua, para atravessar a pequena avenida, foi brutalmente atingido por um carro sem classe, dirigido por um motorista até gente boa, mas tão desatento quando o pequeno homem. Pouco restou da perna e do braço. A cabeça ficou lá, com os olhos revirados. A boca babando sangue no chão.
Uma senhora de poucas moedas, que passava pela cena, viu a sacolinha de carne. Pegou-a para si e aproveitou as moedinhas que tinha pra virar uma pinga. Um molecote, vendo a bicicletinha que brilhava, linda, linda, pegou-a para si e saiu a dominar o espaço com seus cabelos crespos espalhados pelo vento.
E o menino? Tiraram tudo o que interessava e ficou lá. A alma, já foi.
Se eu tivesse escrito, teria deixado a bicicleta tão quebrada quanto pescoço de galinha abatida.
ResponderExcluirTo com saudades das nossas discussões existencialistas...
ResponderExcluirSempre que vejo algo interessante de filosofia ou algo do tipo penso em você...Cade ela para podermos nos atracar verbalmente, um quase puxando os cabelos do outro, srsrsrs...
Bjss
Rafa
Carne moida!
ResponderExcluirNossa, senti pena do garoto mesmo sendo apenas um texto. Mas, não é uma escrita totalmente fictícia, pois essas coisas ocorrem na realidade.
ResponderExcluirJá li um livro da Clarice Lispector, A hora da estrela.. você podia lê-lo, creio que gostaria.
Beijos.
como e maravilhosa
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